(Hortêncio Pessoa)
Nasci em berço dourado,
Pelo sol de Fortaleza;
Fui por ele batizado,
Sou nobre de natureza!
Sou guerreiro, sou mestiço,
Sou filho de Iracema,
Faço amor, faço feitiço,
Quando não faço poema
Tenho o sangue azul mesclado,
Desse vergel ondulante;
Dele fiz manto sagrado
Para cobrir minha amante...
Cidade mulher, casada,
para mim moça donzela;
Amarrei minha jangada,
Nas rendas da saia dela.
Cresci no bairro Aldeota,
E conheço os seus segredos...
Tantos, tantos... não importa,
Posso contá-los nos dedos.
Onde o Santo Carpinteiro,
Construiu sua casinha,
Com paredes de coqueiro,
E telhado de conchinha.
Para mim, trançou esteira,
Com palhas de carnaúba;
Acendeu minha fogueira,
Com troncos de timbaúba.
Quando no mar eu velejo,
Já não me assusta a tormenta;
Ventania é bafejo,
Eu navego em água benta.
Prateia, luar, prateia...
As malhas da minha rede...
Dentro dela, uma sereia,
Busca o amor , com muita sede.
Com a linha do horizonte,
Farei rendas, farei verso.
Enfeitarei sua fronte,
Com o laço do universo.
Com a imburana-de-cheiro,
Farei potes de perfume;
Passo no meu corpo inteiro,
Para lhe fazer ciúme.
Seu cabelo vou soltar,
Pra voar feito graúnas;
Com ela vou namorar,
Nos labirintos das dunas.
O farol vai se apagando,
Um novo dia surgindo...
O mar está me chamando,
Já vou indo... já vou indo...
Não deixe, meu Deus, não deixe,
Naufragar minha jangada,
Cheia de amor e de peixe,
Pra minha gata malhada.
Se um dia chegar a morte,
Não morrerá meu sorriso...
Fui um pescador de sorte...
já vivi no paraíso!
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